O maior desafio (... e um dos maiores atrativos) ao construirmos nossos kits é a tentativa da reprodução do real na escala que trabalhamos. Os materiais dos kits (plástico e resina) apresentam limitações, quando os detalhes e a escala são pequenos. O Photo-etched (PE) veio para solucionar a maioria destes problemas, principalmente os relacionados aos detalhes finos e delicados. Um fator agravante é que os PE normalmente são caros, de difícil acesso à grande maioria dos modelistas e raros em nosso meio “Tupiniquim”.

O objetivo deste artigo é o de ensinar, passo a passo, como confeccionar uma fivela de cinto (pode ser de vestuário ou de preensão de equipamentos) e sua tira, com materiais econômicos e alternativos, liberando o modelista do custo da aquisição de kits de PE.

No mundo da Militaria, um dos maiores erros no que tange à verossimilhança de nossas réplicas são os assim chamados “acessórios anti-gravitacionais”, ou seja, os acessórios e “badulaques” que ficam “flutuando” sobre o deque dos blindados ou, o que é pior, aderidos por forças misteriosas às torretas, sem a mínima explicação física possível.

São aqueles acessórios que são simplesmente colocados sobre os veículos, sem levar em conta que estas mesmas máquinas normalmente se deslocam em campo aberto, aos pulos, trancos e solavancos. E mesmo assim, miraculosamente, estes mesmos materiais ficam “aderidos” aos tanques como se fossem minas magnéticas. Observe estes exemplos de erros crassos abaixo:

Fig.01. Tambores miraculosamente estáveis...

Fig.02:  Caixa de munição e lagartas adicionais “obedientes”...

Fig.03: Caixas “disciplinadamente ordenadas e quietas”  em um deck inclinado de Sherman

 O correto, nestes casos, seria  a construção de racks de retenção, de tiras de couro ou lonas que fixariam estes acessórios em brackets do casco (o motivo deste artigo) ou, pelo menos, amarrias com cordas e cabos.

 Construindo uma Tira de couro ou de lona:

Para não cairmos nestes erros e não gastarmos os “olhos da cara”, podemos com técnicas simples e fáceis, executarmos peças semelhantes a estas, que trarão maior realidade e detalhes ao nosso modelo:

Fig.04: Exemplo de rack metálico associado a fitas de couro com fivelas nos jerry-cans

Fig.05: - Observe as tiras prendendo os jerry-cans e um rack vazio, com a fita pendendo...

A primeira coisa é providenciar (a título de doação, é claro...), em uma Clínica Radiológica Dental ou com o seu Dentista, as pequenas folhas de chumbo que vem dentro da embalagem dos filmes Periapicais e Oclusais Intra-orais, que são descartadas quando o filme é revelado.

Fig.06: Tipos de Filmes Dentais

Antigamente, usavam-se os tubos de pasta de dente, quando os mesmos eram metálicos, mas com a “plastificação” do mundo, esta fonte “secou”...

Uma boa conduta é você providenciar a esterilização destas folhas de chumbo, pois existe a possibilidade remota (mas existe...) do contato de micro-organismos dos pacientes com esta folha de chumbo, nos processos de revelação do filme. O processo é fácil: providencie em uma Loja de Materiais Dentais pastilhas de formalina (cuidado para não esfregar nos olhos...). Coloque as folhas de chumbo e uma ou duas pastilhas de formalina em uma caixinha plástica com tampa justa. Deixe fechada por 24 h e, ao retirar, estarão esterilizadas... Cuidado com os vapores que saem da caixa. São bem fortes. Embora possa parecer um preciosismo, este procedimento é simples e seguro, e você poderá utilizar o material (que é excelente e vale a pena o trabalho...) sem nenhum risco.

Outra possibilidade é aquele lacre metálico das latas de Nescau ou de Leite em Pó, desde que sejam lisas. Outra opção é o uso de pequenas tiras de fita-crepe cortadas.... Reproduzem muito bem as tiras de lona, mas apresentam uma certa “inércia” que não reproduz bem o “caimento” e o peso das tiras em escalas menores...Uma vez obtidas as tiras de amarração, vamos fazer a fivela destas fitas.

Construindo a Fivela:

A construção da fivela é um pouco mais trabalhosa que a fita, mas também é bem tranqüila de se executar. Necessita de um ferro de soldar de baixa potência (40 w), solda e pasta de soldagem (fluxo), que devem fazer parte do seu arsenal de modelista, além de fios de cobre bem finos, para a confecção das fivelas (encontrados em casas de recuperação de motores elétricos) :

Fig.07: Kit de solda eletrônica

Se ainda não os tem, adquira-os, pois são baratos e, além de resolverem muitos problemas do modelismo (antenas, fivelas, construção de escadas, fazer zimmerit em cascos alemães, etc.) você nunca mais vai precisar levar seu rádio-relógio para consertar, quando o fio da bateria se romper.  Hehehehehehe......

Pegue o fio de cobre da espessura desejada e dobre-o, de acordo com o esquema, com o auxílio de uma pinça ou de um alicate de bico fininho. Siga conforme os números:

Fig.07: Esquema de fivela

Inicie pelo nº. 1, dobrando os cantos até chegar no nº. 6, quando você construirá a parte do meio da fivela, estendendo-se além da mesma, até o nº. 7. Isto proporciona a você um cabo para manusear com mais facilidade a pequena fivela... Deposite uma pequena quantidade de pasta de soldagem nas emendas e solde com cuidado, removendo, após o resfriamento, os excessos da soldagem e, então, corte o excesso do fio.

Você também pode usar esta técnica para construir antenas de carros alemães ou mesmo russos. É só construir, sobre um bloquinho de madeira macia, um gabarito para facilitar as dobraduras, com alfinetes. Mantenha os alfinetes em paralelo, entre si, para permitir a remoção da antena, quando pronta.

Fig.08: Esquema de gabarito

Fig.09: Exemplo de antena alemã

Infelizmente, na escala 1/35, você dificilmente conseguiria fazer uma fivela com os alfinetes como gabarito (seria muito pequena...). Mas aí está a idéia, adaptada para outras aplicações.

Voltando às faixas e fivelas; com a fivela pronta, está na hora de você passar a faixa de fita-crepe ou de chumbo pela fivela. Pinte a fita antes, pois isto facilitará a sua vida.

Fig.10: esquema da fita e de montagem

Observe a figura acima: uma vez passada a fita, é hora de prender o jerry-can, ou a ferramenta, ou a arma, na estrutura desejada. 

Pronto !!! Você economizou uma nota em PE, seus kits ficaram mais bonitos e reais, além do que, de brinde, você desenvolveu novas capacidades e habilidades de manuseio de outros materiais que não o plástico!

Como tudo na vida, exercite e persevere nesta técnica. Cuidado com o uso do ferro de soldar. Mantenha crianças e animais longe do mesmo quando estiver trabalhando. No mais, é só ir treinando e treinando...

E, desculpem os desenhos e os gráficos... tento ser plastimodelista, mas estou longe de ser designer gráfico...

Quaisquer dúvidas entrem em contato... 

Foi um prazer teclar este artigo.

Um abraço:

Marcos  Serra (Panzerserra) panzerserra@gmail.com