CORES E CAMUFLAGENS DO P-40E NA FAB

Quando a recém formada FAB recebeu seus P-40E em 07 de agosto de 1942, que originalmente pertenciam a uma encomenda inglesa que foi desviada para nossa força aérea, foram matriculados 01 a 06 e operaram na base aérea de Natal. Estes aviões foram recebidos com a pintura da Real Força Aérea, mas na realidade com as cores usadas pela Curtiss, que não tinham nada um comum com as cores originais inglesas.

Os esquemas de camuflagem aplicados na fábrica da Curtiss para os P-40E da RAF têm sido à muito tempo uma fonte muito obscura para artistas, autores e modelistas. Pelo menos um museu restaurou um P-40E real com as cores erradas, e até mesmo um conceituado autor das publicações da Squadron Signal as descreveu erradamente, tendo que corrigi-las em uma edição posterior.

Essa história começou um abril de 1940, quando os primeiros Tomahawks (P-40B e C) de uma encomenda britânica foram pintados no "Temperate Land Scheme", sendo as superfícies superiores em terra-escuro (Dark Earth) e verde-escuro (Dark Green) e as partes inferiores em azul-celeste (Duck Egg Blue ou Sky Type "S"). As cores usadas eram equivalentes próximas às especificações da RAF. Curiosamente estes Tomahawks receberam o azul-celeste dois meses antes que qualquer Hurricane ou Spitfire da RAF. O esquema de pintura das partes superiores foi cuidadosamente elaborado em máscaras que incluíam até mesmo as áreas circulares das insígnias, sendo entregue uma parte da produção com o mesmo esquema em "espelho".

Para simplificar a produção, todos os P-40E-1 (Warhawk para a USAAF e Kittyhawk Mk.Ia para a RAF) foram pintados segundo as especificações da RAF, diferenciados apenas pelas marcações inglesas ou americanas, e estes com destino indeterminado foram engradados com máscaras para ambas as insígnias.

Segundo plantas de fábrica, as aeronaves deveriam ser camufladas seguindo o esquema "Du Pont 71 Flat Camouflage": Dark Earth 71-009, Dark Green 71-013 e um azul (Sky Type "S"?) não especificado mas denominado "Pastel Blue". Entretanto, fotos coloridas e amostras de cores da época mostraram que o terra-escuro utilizado foi na verdade uma tonalidade similar ao US. Sand (ANA 616, Areia - FS 30279), o verde-escuro se assemelhava ao US. Medium Green (ANA 612, verde-médio - FS 34092) e o Pastel Blue, provavelmente era uma aproximação do azul-celeste (Sky Type "S").

O desenho do padrão das superfícies superiores era o mesmo no "Desert Scheme" (esquema do deserto), com as cores verde-médio, Areia e "Pastel Blue" substituídas por terra-médio (Middlestone: Du Pont 71-069), terra-escuro (Dark Earth: Du Pont 71-065) e Azure Blue (Du Pont 71-062) respectivamente.

Não há explicação no uso pela Curtiss de duas cores tão dissimilares para o terra-escuro (Du Pont 71-009 e 71-065) e a substituição do verde-escuro por verde-médio no "Temperate Land Scheme". A má interpretação das fotos em preto-e-branco, levando-se em consideração apenas o maior contraste entre as cores, sugeriu à maioria dos pesquisadores que se tratava de um avião com o esquema do deserto da RAF, pois pensava-se que as cores aplicadas pelo fabricante no "Temperate Land Scheme" seguiam as tonalidades exigidas pela RAF, o que causaria um contraste menor entre as cores nas fotos. Prestando bem atenção, podemos identificar que esquema é apresentado nas fotos em preto-e-branco pela posição da cor mais escura que é inversa de um esquema para o outro.

De acordo com este trabalho pude identificar que os P-40E da FAB de matrículas 01, 02 e 04 foram recebidos com o "Temperate Land Scheme" erradamente pintados pela Curtiss. Como os números de série* dos aviões 01 a 05 são muito próximos, possivelmente todos foram pintados no mesmo esquema, com exceção do 06 (41-36096), que foi de uma série de produção anterior e por este motivo não pude confirmar sua provável pintura. Terá sido o 06 pintado no "Desert Scheme"?
*ver tabela

P-40E S/N - Serial Number
  01                41-36132
  02                41-36133
  03                41-36134
  04                41-36136
  05                41-36139
  06                41-36096

O P-40E NA FAB E A VERDADE SOBRE SUAS CORES

Referencias Bibliográficas:

• Aero Nº 32, maio de 1982, págs 14 a 17;
• Fine Scale Modeler, janeiro de 1995, págs 42 a 45;
• Aviação Militar Brasileira 1916 - 1984, Francisco Pereira Neto, pág 164;
• Air Force Colors Vol 1 1926 - 1942, Dana Bell, pág 84.*

• Matéria - Árpád Istvan D. Árbocz
• Desenho (Corel Draw) - Árpád Árbocz & Alexandre Guedes
• Foto (P-40E) - via Maj J. M. Monteiro.