Semper Fi Shermans: M4 a serviço dos Marines

Parte 2

Fabrício Menardi

Introdução

Na segunda metade de 1944, os Marines vão atacar e conquistar as Ilhas Marianas (Saipan, Tinian e Guam) e as Ilhas Palau (Peleliu). As Marianas eram pontos estratégicos, pois proporcionariam aos EUA bases para os ataques dos B-29 ao coração do território japonês e colocaria as comunicações marítimas japonesas sobre ataque direto. A captura das Marianas seria uma das vitórias mais estratégicas da guerra, porém, uma da menos conhecidas.

Nessas terríveis batalhas, um novo modelo do M4 vai ser utilizado, o M4A2 late-production (dry stowage): versão que dispunha de uma torre high bustle (wet stowage) de 75mm com duas escotilhas, reforços extras na blindagem lateral. Seu casco frontal com uma inclinação de 47o provou-se ser mais eficiente que a blindagem de 56º dos modelos anteriores.

1 - Saipan

O ataque inicial às Ilhas Marianas se com o desembarque em Saipan, no dia 15 de junho de 1944. Neste desembarque e nas ações para a tomadas da ilha, se envolveram duas divisões dos Marines, a 2ª e a 4ª Divisões com suas respectivas unidades blindadas, o 2ª e 4ª Batalhões de Tanques que encontravam mais "poderosos" que nas ações anteriores: cada batalhão tinha 46 tanques médios, divididos em três companhias. As Companhias D desses batalhões estavam armadas com Satans (versão lança-chamas do M3A1) e com M5A1 para a proteção dos primeiros.

Nas Marianas, o 4º Batalhão usou M4A2 mid-production - muitos dos quais veteranos das batalhas anteriores, como o Knave, que apresenta um estilo de camuflagem típica dos veículos dessa unidade; a cor mais clara é o areia. A torre do Knave é uma dry stowage sem a portinhola de ejeção de cartucho. Note-se o estado precário da proteção de madeira e o modo nada caprichado como o nome do veículo foi escrito:

O 4º Batalhão também usou M4A2 late-production. Nestes tanques o padrão de pintura e marcação seria mais homogêneo que nos mid.

O Gonney Boid apresenta a cor (verde-oliva) e as marcações padrões dos M4A2 late-production do 4º Batalhão nas Marianas: nomes e marcas de embarque (figuras geométricas com números dentro para ajudar na organização dos veículos durante o transporte e desembarque) gravados em branco nas laterais da blindagem e nos wading trunks:

O M4A2 abaixo não conseguiu alcançar a terra firme de Saipan. O blindado apresenta a parte superior de sua torre pintada de branco e o um numeral de dois dígitos em vermelho. Este tipo de marcação não muito comum ajudava na coordenação de ataques aéreos e na identificação - também aérea - dos veículos.

O 2º Batalhão apresentaria um sistema de marcação dos mais padronizados que se conhece entre as unidades de tanques dos Marines. Os tanques deste batalhão, normalmente pintados de verde-oliva, tinham seus nomes iniciados pelas letras das companhias a que pertenciam: A, B e C. Como dito antes, a Companhia D possuía Satans e M5A1 pintados e marcados do mesmo modo que os Shermans.

Nas laterais e parte traseira da torre e precedido da letra que indicava a companhia era pintado o número do tanque. Nas laterais do casco superior, sob a placa extra de blindagem, grava-se o nome do veículo. Tais marcações (na cor branca) eram feitas com estêncil e não à mão como no 4º Batalhão.

O B-11 com seu wading trunk camuflado apresenta armações metálicas para transporte de jerrycans, coisa típica nos tanques dos dois batalhões estudados aqui:

2- Tinian

O desembarque em Tinian (24 de julho de 1944) vai ser considerado pelo comandante dos Marines no Pacífico, General Holland Smith, "a mais perfeita operação anfíbia da guerra". Ofuscado pelos eventos simultâneos na Europa, o desembarque na ilha foi um exemplo quase perfeito do que deveria ser uma operação do tipo: poucos assaltos anfíbios lograram surpresa como este e as táticas e equipamentos especiais usados permitiram aos atacantes desembarcar o grosso de suas tropas em apenas duas praias, uma delas com apenas 50m de largura.

Como se deu em Saipan, os veículos do 4ª Batalhão contariam com um reforço "blindado" a mais: uma camada de cimento seria colocada entre a blindagem lateral do tanque e as armações de madeira. Além disso, alguns teriam os glacis frontais reforçados com cimento, que proporcionava ao tanque uma proteção extra de 5 polegadas de espessura. Sacos com areia também foram improvisados para a proteção do tanque.

Era costume também deixar a proteção de madeira só em verde-oliva, enquanto o restante do tanque era camuflado. Por vezes, o nome do veículo era escrito na parte frontal das escotilhas do motorista e do rádio operador, como podemos ver em um veterano das Ilhas Marshalls, o Ill Wind:

Outro veterano das Marshalls, o Janny Lee, agora mais protegido pelo concreto:

 A foto abaixo mostra o tanque destruído e a história de como isto aconteceu é interessante. O Jenny Lee foi posto fora de combate por uma mina antitanque e abandonado por sua tripulação. No dia seguinte, os Marines voltaram com um tanque recovery a fim de rebocá-lo para a retaguarda, mas o tanque já havia sido apropriado pelos japoneses, que ao perceberem a aproximação dos americanos começaram a atirar na coluna usando o canhão do tanque.

Alguns Shermans dos Marines foram chamados e na escaramuça que se seguiu, o Jenny Lee foi destruído. Mais tarde, o que sobrou dele foi usado como peças de reposição para outros tanques.

Note-se que o mesmo padrão de camuflagem do Knave aparece no King Kong, nome escrito em branco também nas laterais do veículo e o tanque de água que era fixado ao deck do motor do veículo. Estes dispositivos, provenientes dos M3A1, eram uma das características peculiares dos tanques da Companhia C do 4º Batalhão e não foram vistos em tanques de outras unidades:

Mais tanque da Companhia C. Joker parece estar escrito em amarelo:

Por ocasião dos desembarques em Iwo Jima, em fevereiro de 1945, Joker vai ser convertido em um Sherman Flail, um veículo equipado com dispositivo para a limpeza de terrenos minados.

O Golbrick Jr. desembarcando de um LCM-3 em Saipan e em uma posse para a foto em Tinian mostra todas as marcações que poderiam aparecer nos M4A2 late-production, inclusive os números de procuração (procurement number, espécie de "RG" do tanque que permanecia o mesmo durante toda a sua vida, mesmo se o veículo fosse reparado ou reconstruído), que eram gravados em estêncil na cor amarela:

Os Shermans do 2º Batalhão apresentavam pintura e marcações mais simples e despojadas do que os seus primos e irmãos do 4º Batalhão:

Na próxima parte, falaremos das ações dos Shermans usados em Guam e em Peleliu. Trataremos também dos tanques recovery e dozer, versões especializadas do M4.