Míssil SA-2 "Guideline " Trumpeter 1/35, versão com lançador

Avaliação da montagem do modelo do Míssil SA-2 "Guideline" da Trumpeter, na escala 1/35 - versão com lançador, ref. NO.00206.

1. Montagem do míssil

O trabalho se inicia com a montagem do míssil propriamente dito. Este se compõe do corpo com a ogiva explosiva e a sessão propulsora ou "booster", do original em inglês. As duas metades do corpo e da sessão propulsora se ajustam bem.

Para poder incorporar o máximo de detalhes a um objeto de simetria cilíndrica, a Trumpeter fez uso intensivo de moldes com inserções laterais, que são removidas depois que a peça é injetada. O resultado é atraente, mas a remoção das linhas de moldagem sobre o corpo do foguete, passando pelo meio de diversos detalhes e painéis gravados, irá requerer paciência e destreza. Esse trabalho foi realizado empregando-se cola de cianoacrilato para nivelar eventuais descontinuidades ao longo das linhas de moldagem, e limas pequenas e lixas de unha para lixar. O trabalho correu rápido e, com cuidado, os detalhes de superfície puderam ser preservados.

A peça M4, base do corpo do míssil, se ajusta deixando alguns gaps com a sessão cilíndrica. O ajuste foi melhorado limando-se as peças por dentro, e os poucos gaps remanescentes foram selados com cianoacrilato. O restante da montagem do míssil se passa sem maiores dificuldades, atentando apenas para a delicadeza de algumas peças, em especial dos atuadores sobre as aletas maiores do "booster" e o elemento que conecta essas mesmas aletas (peça M5), e o ajuste um pouco folgado da peça M10 (uma espécie de cone difusor?) dentro do exaustor. Cola epóxi (Araldite) diluída com solvente de esmalte foi passada na base de cada aleta, e o excesso removido com cotonetes, embebidos no mesmo solvente.

As diversas aletas, em número de 16, são finas e bem moldadas, aportando estética e realismo à peça. O booster se liga à sessão principal do míssil por quatro conectores, cada um com um minúsculo pino que se encaixa em um minúsculo furo na base do corpo do míssil. Para evitar danos e facilitar a manipulação durante a pintura, o booster foi deixado à parte para ser colado apenas durante a montagem final.

2. Montagem do lançador

A maior parte das peças do modelo compõe o lançador. Este é formado por diversos módulos individuais, formando um conjunto mais complexo e interessante do que propriamente atraente. O nível de detalhes na superfície é muito bom, com excelente definição geral.

A montagem se inicia com a construção da base sobre a qual se apoiará todo o modelo. O conjunto, em formato de cruz, conta com duas pernas (sapatas) articuladas. Oito pistões hidráulicos também se articulam sobre suas bases. A posição em que os mesmos devem permanecer não é clara.

A montagem da base de apoio se faz bem e sem dificuldades, mas no final uma posição defnitiva foi escolhida e as sapatas e os pistões foram colados de acordo. O elemento giratório que permite que o conjunto do míssil e dos módulos de lançamento girem sobre a base (peças P2 e P3) foi mantido.

Os dois módulos de controle foram montados em seguida. As diversas peças se ajustam em geral bastante bem, exceto pela parte posterior da peça P19 (parede interna do módulo de controle), que necessitou de um ajuste feito com limas para se assentar plenamente. Linhas de junção e eventuais frestas foram mais uma vez seladas com cianoacrilato, e limadas e lixadas com cuidado para preservar os detalhes próximos. As alças de suporte sobre cada um dos dois módulos podem ser usadas tal qual vêm no modelo, mas seus pontos de encaixe são muito superficiais e delicados e as alças podem se quebrar facilmente durante a manipulação (adivinhem como eu sei disso...). Recomenda-se por isso refazê-las com arame de latão ou cobre, fazendo com que as alças atravessem a superfície do módulo e colando-as por dentro com cola epoxídica.

A caixa central que une os dois módulos de comando é o elemento mais simples do conjunto, e se monta sem nenhuma dificuldade. Um ensaio a seco com os dois módulos, no entanto, mostrou uma fresta de aproximadamente 0,3 mm de cada lado. Ainda que essa diferença não comprometesse a estabilidade do conjunto, tiras de estireno foram acrescentadas à caixa central para melhorar o ajuste.

A rampa ou braço de lançamento é o sub conjunto que compõe o lançador que demanda mais atenção. A precisão e o nível de detalhe são muito bons, envolvendo detalhes complexos, algo admirável para uma companhia que é tão recente no mercado. A montagem suscita cuidado, pois o braço se compõe de 2 peças laterais longas e finas (peças O7 e O8), às quais são coladas as partes de cima e de baixo, tão longas quanto mas ainda mais finas que as laterais. Eu temia particularmente distorcer o conjunto, prejudicando a estética e, eventualmene, o ajuste final do míssil sobre o braço...

Ensaios a seco, no entanto, mostraram que os pinos que encaixavam as laterais uma à outra proporcionavam um bom alinhamento. Não querendo correr riscos, os três pinos machos na face anterior interna da peça O8 foram removidos. A parte superior do braço, peça O17 foi então encaixada, o alinhamento verificado e cola líquida Jet aplicada ao longo das emendas. A Jet (co-polímero de acrílico) age rápida e eficientemente sobre o plástico da Trumpeter, praticamente fundindo as peças com excelente acabamento, mas cuidado para não manter "bolsões" do líquído aprisionado sem evaporação, pois a emenda depois pode amolecer por dentro e apresentar depressões.

Tendo três partes alinhadas, as laterais O7 e O8 foram por fim coladas internamente por aplicação de cola líquida aos pinos entre as duas paredes. Um encaixe a seco da parte de baixo ao conjunto mostrou que a parte anterior (de frente) da peça O3 teimava em não querer se ajustar. O canal interno formado pelas laterais foi limado com uma lima chata. Esse ajuste feito, a O3 peça pôde ser acomodada e colada com cola líquida (Jet), aplicada ao longo das arestas, o que fez a emenda desaparecer praticamente instantaneamente, sem frestas visíveis. Incrível!

A montagem do braço do lançador termina sem maiores problemas. Deixe o pistão central na parte de trás (peça P39) articulado sem colar, pois o mesmo será necessário ser ajustado na montagem final. Não se incomode muito em deixar o braço articulado para permitir o míssil se levantar e abaixar - a peça da engrenagem P28 não é moldada com precisão, fazendo com que a articulação do braço seja pouco firme. O braço seria colado na posição de lançamento, na montagem final.

O defletor de chama é o último módulo individual a ser montado. Montagem simples e sem dificuldade, mas é recomendado "pinar" com um arame de latão (pode ser um pedacinho de alfinete, mesmo) o disco de apoio no solo (peça P31) ao conjunto. Adivinhem novamente como eu sei disso!! ...

3. Pintura e montagem gerais

O esquema geral é bastante simples: o míssil é cinza claro, e a base de lançamento, verde. O míssil foi pintado com laca nitrocelulósica automotiva, sobre uma base de primer. Tanto o primer como a tinta foram polidos com papel toalha, para "desempoeirar "a superfície e deixá-la mais lisa para os (muitos) decais e estêncils que viriam depois. Um "wash" de tinta a óleo de terra de Siena e esmalte sintético azul escuro e preto foi passado em todas as linhas de painéis e baixos relevos.

Nesse ponto, os decais começaram a ser aplicados. Eles vêm impressos em um filme brilhante, com ótima definição de números e caracteres em cirílico, a maior parte com frações de milímetros. Números e caracteres em vermelho são impressos sobre um fundo branco, e não se notam desalinhamentos!

O filme não é exatamente frágil, mas é duro e quebradiço, e tende a formar "silvering", mesmo sobre a laca polida. O seguinte método de aplicação acabou funcionando bem: cada decal foi passado em cola branca diluída, e depois movido com um pincel chato para a superfície do modelo, previamente molhada com Micro Set. Os decais foram então ajustados para sua posição definitiva e comprimidos com cotonetes e um pano seco, com uma pincelada de Micro Sol para finalizar a aplicação. Um "drybrushing" ( pincel seco ) de cinza muito claro e branco sobre alguns detalhes do míssil, seguido de uma mão leve de verniz fosco para uniformizar o brilho e o acabamento encerraram a pintura. O booster foi então colado ao míssil atráves dos seus 4 pontos de conexão, com cianoacrilato, e a junção se revelou surpreendentemente sólida e estável.

Os componentes da base foram todos pintados com acrílico Tamiya - Nato Green. A tinta Tamiya se aplica rápida e sem dificuldade, mas seu acabamento muito fosco requereu depois um polimento com papel toalha e aplicação de verniz bilhante para permitir um wash de tinta óleo terra de siena / preto ser aplicado nos cantos e depressões. Uma das grandes características da tinta óleo é que ela demora entre 12 e 24h para secar completamente, e até emtão pode ser trabalhada para gerar efeitos tonais e de sombreamento. A tinta nos cantos e depressões foi assim seletivamente "puxada", esbastada com um pincel chato para criar efeitos de sombra e variação na pintura. Em alguns casos, mais "wash" de óleo foi aplicado para re-delinear planos e detalhes do conjunto. Verniz fosco foi aplicado e um "drybrushing " de esmalte sintético verde fosco, clareado com creme e branco foi aplicado. A tinta de base sendo bastante escura, um esforço considerável foi necessário para criar um contraste perceptível.

Como toque final na pintura da base de lançamento, tentei usar a técnica do amigo de longa data e colega modelista Xcão da Webkits, de usar lápis aquareláveis ( que têm uma mina mais macia ) para acrescentar alguns descascados e definir detalhes. O resultado foi satisfatório, e penso eu muito promissor para futuros projetos: o lápis aquarelável de cor terra utilizado se comportou como um verdadeiro lápis de maquiagem, aplicando cor rápida e eficientemente a arestas e detalhes, com um grau de conforto e controle bem maiores que o dry-brushing clássico - além de ser uma técnica "seca mesmo"!

Os diversos componentes da base foram cuidadosamente colados uns aos outros, com o braço de lançamento entre eles colado também em sua posição definitiva. O conjunto do defletor de chama foi encaixado com um pino de latão como reforço em sua articulação, e colado também na posição. Uma mão leve de verniz fosco foi passada sobre a base de lançamento.

Depois de alguns ajustes feitos com uma lima no conector em forma de "T", o míssil SA-2 pôde enfim ser encaixado com cuidado - mas firmemente - sobre o braço da base de lançamento - TERMINADO!

4. Conclusões

O modelo do míssil terra-ar SA-2 sobre uma base de lançamento da Trumpeter monta em geral bastante bem, com somente alguns ajustes (não complicados) sendo necessários a um bom resultado final. O nível de detalhe é muito bom, e o modelo acabado chama a atenção pela configuração imponente do míssil em posição elevada , com o módulo de lançamento em diagonal sobre as sapatas da base. A aplicação dos decais se constitue em um desafio, pela quantidade de elementos a aplicar e pelo filme quebradiço, mas pode ser feita com um pouco de experiência e os resultados valem a pena.

O modelo se constitui, enfim, em uma réplica muito bem detalhada e convincente de um armamento fundamental do arsenal russo na época da Guerra Fria, podendo se constituir também na base de um excelente diorama, com teatros de operação que vão dos desertos do Oriente Médio às florestas tropicais do Sudeste Asiático. Recomendado, para todo fã de militaria pós Segunda Guerra Mundial, modelistas de militaria 1/35 em geral e iniciantes desejosos de trabalhar sobre uma peça de importância histórica, com ótimo nível de detalhe mas não muito complicada de montar.

Meus agradecimentos ao José Ricardo e à Da. Maria José da HO Original Modelismo (ver endereço da loja neste site), pela doação do modelo para este "review".

João Carlos Gregoris / "Johnny"

Premiação no Open GPC 2006 (inserido pelo Sidney, à revelia do autor)

João Carlos Gregoris - Johnny

Nossos agradecimentos a HOriginal, importadora oficial da marca, pelo exemplar enviado para  avaliação.
Antonio José Brisotti