autor:  Marcos Serra (Panzerserra)  

panzerserra@gmail.com

Histórico:

     Durante a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de rápidos deslocamentos, oriundas das duras lições apreendidas pelos aliados através da Blitzkrieg, forçou ao desenvolvimento de toda uma filosofia de artilharia auto-propulsada. Os americanos estavam bem servidos,neste campo, com alguns veículos confiáveis e robustos. Pode ser citado, como o mais característico deles, o M7 Priest (Padre), que portava um obuseiro de 105mm. Este GMC (Gun Motor Carriage) era a espinha dorsal da Artilharia Autopropulsada Americana. Este veículo era baseado no chassis do M3 Lee, americano.

M7 Priest GMC 105mm

     Com o desenrolar do Conflito, a necessidade de armas maiores, de maiores calibres, levou ao desenvolvimento do M12, também baseado no chassis do M3 Lee, só que portando um canhão/obuseiro de maior calibre: o M1917, derivado dos canhões franceses de tiro rápido da primeira Guerra Mundial. O GMC M12 acrescentou um peso maior à barragem autopropulsada americana.

M12 - GMC 155mm

     Mas como o M12 carregava uma arma da Primeira Guerra Mundial, os estoques destes canhões foram abaixando rapidamente, pelo intenso e necessário uso. O Exército Americano optou pela substitução desta arma obsoleta por um canhão mais moderno, de maior alcance e confiabilidade, embora de mesmo calibre. O M1 155mm Long Tom:

M1/M1A1 Long Tom 155mm

     O chassis do M3 Lee já não apresentava capacidade de carga para absorver o peso e as energias liberadas pelo disparo do Long Tom. Optou-se, então, pelo uso do confiável chassis do Sherman M4, em sua mais recente versão, a M4A3E8, com suspensão de molas horizontais (HVSS), conhecido como Easy-Eight.

M4A3E8 Sherman "Easy Eight" 76mm

     Este nome era derivado do sub-tipo (E8) e pela maciez de deslocamento, graças a esta nova suspensão e a uma maior distribuição de peso do veículo ao solo, em razão das lagartas serem bem mais largas que a da série anterior M4 e M3.

     O veículo advindo destas modificações era uma evolução natural do M12, embora totalmente diferente em sua concepção.

Linhagem dos SPG de 155mm Americanos

     Inicialmente designado como T83 Gun Motor Carrier, sua construção iniciou em Março de 1944, quando 5 veículos-pilotos foram construídos, com os testes demonstrando o acerto do conceito e do design, com um perfeito casamento entre o canhão e o chassis. O T83 foi aceito para entrar em produção estandardizada em Fevereiro de 1945, sendo que em Maio de 1945 sua designação foi alterada de T83 para M40. Apenas um veículo T83 foi enviado ao campo de batalha da Europa, participando da Operação Zebra, perto de Colônia, em Março de 1945. Este veículo ostentava uma camuflagem característica de listras negras sobre o Olive-drab padrão dos Americanos.

T83 Zebra Mission, Köln, 1945.

     Com o sucesso do T83, uma versão armada com o obuseiro de 8 polegadas (203mm) M1/M2 foi proposta e construída, sendo conhecido como T89. Foram encomendadas 576 unidades, mas com o final da guerra, com apenas 48 unidades construídas, o pedido foi cancelado. O T89 foi renomeado M43 em novembro de 1945.

M43 (T89) 8' (203mm) - Heavy Howitzer

     O M40 participou ativamente da Guerra da Coréia, onde versões com lagartas tipo chevron eram mais comuns. O T83 da Missão Zebra apresentava a lagarta metálica tipo T66 (a do kit é a T66, da versão WWII) e os da Coréia usavam os tipos T80 e T84. Esta foto abaixo mostra um M40 da Coréia com lagartas T80 no casco, adicionais e "calçando" a T84 de borracha. Maiores detalhes sobre as lagartas HVSS veja aqui...

M40 GMC 155 mm

     Além da versão de Obuseiro de 8 polegadas do M40, como no caso do M12, originou-se uma versão transportadora de munição, o T30 Cargo-Carrier, que tinha seu canhão removido e era adaptado um anel para metralhadora .50, semelhante ao carro-blindado M20.

T30 Cargo-carrier

O kit:

Arte do kit . M40 AFV Club

       Dentro de uma resistente caixa de papelão, as peças de estireno verde-oliva vem embaladas em sacos plásticos termo-selados, além de um saquinho zip-lock com fio para o mecanismo de guincho da pá de conteira e uma placa excelente de foto-gravura (Photo-etched).

Phoo-etched

     O casco inferior é em uma única peça, delgada e dentro da escala, bem diferente dos chassis super-dimensionados da Tamiya, que fica protegido de danos por uma caixinha de papelão branco, com o profile do veículo (ver foto abaixo):

M40 - árvores do kit

     O kit vem ainda com um excelente canhão em alumínio, com estrias (rifle) na boca...

Canhão de alumínio torneado

Detalhe das estrias do canhão

     As lagartas são do tipo T66, originais da WW II ( que sorte !!!), de vinil bem macias, com um excelente detalhamento. Sua colagem pode ser feita com cola de estireno ou cianoacrilato. De vinil, também, são as pecinhas que reproduzem as molas da suspensão.

Detalhe das lagartas de vinil

     O livreto de instruções é completo, com os profiles de pintura e opções de versões e uma folha de decal para estas versões.

Instruções de montagem e pintura

Folha de Decal

     E, finalmente, as transparências que permitem a montagem dos visores das torretas e dos periscópios, além das lanternas traseiras. Estranhamente, os faróis não apresentam transparência ou mesmo lentes deste material (???)

Árvore de transparências

Dry-run da escotilha

Montagem:

     Iniciei a montagem pelo canhão, seguindo as instruções. Colagem do cano de alumínio na base plástica com cianoacrilato. Cuidado com o alinhamento da peça.

Canhão - montagem primária

     As instruções mandam colar todos os acessórios no suporte para depois encaixar o canhão neste berço, mas eu inverti a ordem, nesta etapa: a manipulação do canhão com tantas peças delicadas poderiam gerar "acidentes". Coloquei o canhão no seu berço e, só depois, montei os acessórios (rodas de elevação, miras, etc.)

Berço do canhão e acessórios

     A suspensão é toda articulada, com os braços se movendo independentemente nos bogies da suspensão. Embora possa facilitar o detalhamento em um diorama, a presença da lagarta de vinil geralmente traciona esta suspensão, forçando-a em uma posição estranha. Optei por colar os bogies extremos, deixando apenas o bogie mediano com movimentação. As peças de vinil são encaixadas no interior dos bogies:

Detalhe das molas horizontais - suspensão

    Continuando a montagem da suspensão, repare nos detalhes deste kit, com números de fundição espalhados por muitas peças, como os braços de suspensão, chassis, front-cover e tc. Muito bom o detalhamento....

Detalhes de casco

     As peças são isentas de empenos ou de flashs, mas são muito delicadas. Cuidado na separação de suas árvores. Montagem da porção frontal do casco.

Montagem frontal primária

     A montagem do interior do veículo é uma tranquilidade, com instruções seguras e encaixes perfeitos. Voce pode optar pela montagem do veículo em posição de tiro ou em posição de marcha. Optei pela posição de tiro, com a pá-de-conteira totalmente abaixada, enterrada no solo para absorver as forças de recuo do canhão.

Montagem do compartimento de combate

     As peças fotogravadas são excelentes. A colagem das grelhas de admissão e exaustão não tem mistério. As torretas do Motorista e do Comandante são em plástico transparente. Use Maskol para mascarar os visores destas torretas para permitir sua transparência ao pintar. Optei em montar as escotilhas fechadas, sem os periscópios.

Detalhes : photo-etched

     Enquanto as peças do casco secam, montei e preparei os rodeiros para a  pintura em separado. Isto facilita em muito o acabamento.

Pintando rodeiros

     Com a montagem avançada do casco, comecei a pintura das faixas em negro, deste veículo da Missão Zebra. É um padrão atípico de se ver em veículos americanos...

Desenvolvendo a camuflagem...

     As ferramentas e demais acessórios são pintados em separado e, depois, afixados ao kit. Sobram muitas peças das árvores, abastecendo sua caixa de sucatas....O kit foi envernizado com verniz brilhante e as decais aplicadas por sobre esta superfície lisa. Após a secagem das decais, nova camada de verniz brilhante e o envelhecimento, com washes e chipping (este, muito discreto, pois este veículo chegou bem no final da Guerra...)

Decais aplicadas e detalhes de acabamento

     Com a montagem completa, um grande problema se materializou: as lagartas, no meu entender, estão com um comprimento excessivo. Como são de vinil, elas não ficam tensas, mas arqueadas, fugindo totalmente do posicionamento real deste equipamento. Observe a foto abaixo:

Lagartas sem "caimento"...

     O que fazer ???  Simples: Na porção anterior do veículo, colei a roda tratora no chassis e colei as lagartas nois dentes desta roda tratora, em posição de tensionamento....Na roda tensora, posterior, coloquei a mesma em sua posição mais retraída, no mecanismo de regulagem do próprio tanque (peça A42):

Esquema de montagem da roda tensora.

...mas mesmo assim, a lagarta ficava sem "peso". A solução foi usar pinos de fio de cobre, passantes pela carcaça posterior do veículo e disfarçados por sob o piso do compartimento de combate. Com isto, a lagarta ficou com um aspecto "pesado", real !!! (veja este artigo...)

Consertando a lagarta...

     Com esta simples operação, o aspecto do veículo melhorou 100 %. O weathering foi mais baseado em poeira, pois estes veículos quando "latiam" levantavam núvens de poeira ao seu redor !!!!.

Modelo pronto.

     Como eu montei a pá-de-conteira bem baixa, foi necessário contruir uma pequena base, para que esta ficasse enterrada no chão....Uma pequena moldura de quadro simples, com gesso, tinta e grama estática...e, pronto...Mais um blindado na minha coleção...

Detalhes do modelo pronto.

Detalhe da culatra do canhão e do suporte de obús.

Conclusão:

     O kit é muito, mas muito bom, com um nível de detalhamento que chega a surpreender. Os únicos pontos contra são a ausência de uma tripulação ou mesmo de um único projétil. E o engraçado é que o kit vem com um porta-projétil, como você pode observar na figura acima. Cuidado ao se cortar certas partes da árvores de peças, pois são extremamente finas e delicadas. A minha recomendação é cortar o sprue à distância, com Dremel e, depois, com a peça apoiada, cortar a árvore da peça.

Altamente e Absolutamente Recomendável  !!!!

Marcos Serra (Panzerserra)  

panzerserra@gmail.com