MONTANDO AVIÕES COMERCIAIS -1

1.Introdução

Com a recente “onda de interesse” demonstrada por colegas do fórum com a categoria de aviação civil, achei que caberia um artigo desmistificando alguns pontos dessa categoria do modelismo.

A intenção é mostrar a todos como montar um avião de linhas aéreas pode ser divertido e gratificante, resultando em um belo trabalho para modelistas de qualquer nível, com um mínimo de conhecimentos a respeito de aviação comercial, alguns cuidados e técnicas.

2. Modelos, escalas e companhias: afinal, o que fazer?

Como tudo no modelismo, vai do gosto de cada um. Aviões modernos ou antigos, a hélice ou a jato, enfim, uma extensa gama de possibilidades se abre na hora de decidir sobre o que montar. E mais extensa ainda é a variedede de companhias para cada modelo considerado.

As escalas se dividem basicamente em dois “grupos”: a 1/144, que permite um detalhamento maior e exige um certo espaço para armazenamento de modelos maiores após a construção, e a 1/200, que é menos detalhada, mas não ocupa tanto dos já raros espaços vazios de nossos armários e cristaleiras.

A escolha do modelo e da companhia que pretendemos “homenagear” é de extrema importância para o nível de fidelidade que pretendemos atingir: alguns aviões são operados por certas companhias aéreas com variações de motores, que muitas vezes não são exatamente aqueles que acompanham o kit que vem na caixa.

Como exemplo desse “problema”, a primeira foto mostra a diferença visual entre os motores dos Boeings 747-400 usados pela British Airways e os usados pela Lufthansa.

A segunda foto mostra a diferença visual entre os motores dos Airbus A320 usados pela TAM e os motores usados na frota de A320 da TAP. Aviões iguais, porém com motores completamente diferentes.

Nesses casos pode ser necessário comprar um kit de conversão para permitir uma adaptação adequada do modelo.

Essas pequenas e sutis diferenças mostram a importância do trabalho de pesquisa que deve ser feito antes da compra do modelo e dos decais para início de uma montagem fiel.

Vale ressaltar entretanto, que nada impede um modelista de fazer um avião “Fantasia”, nunca operado por uma determinada companhia, como um Airbus A340 da Varig ou um MD-11 da Gol (uma ótima idéia, a propósito).

MOTORES DO B747-400 BRITISH AIRWAYS x LUFTHANSA

MOTORES DO A320 TAP x TAM

3- Montagem: dicas úteis, sugestões práticas e pitacos

Bem, na minha opinião, escolher a companhia e o modelo a representar é a parte mais difícil de todo o processo. Passemos então para a montagem do modelo.

As técnicas de preparação inicial do kit (leitura do manual de instruções, verificação e até mesmo uma eventual contagem das peças presentes no sprue) são basicamente as mesmas utilizadas em qualquer outro kit.

Os detalhes que fazem a diferença em kits de aviões comerciais, são os que seguem:

* Janelas - Abertas ou fechadas?

Se o seu interesse for fazê-las fechadas e utilizar decais para representá-las (minha preferência pessoal), pode ser necessário emassar as aberturas que eventualmente vêm na fuselagem.

Dica: cole um pequeno pedaço de estireno por dentro da fuselagem para servir como apoio para a massa. Desnecessário dizer que isso dever ser feito antes da junção das duas metades da fuselagem.

Sugiro que o emassamento das janelas também seja feito antes de juntar essas duas partes.

A foto abaixo mostra um kit de um Boeing 777 da Hasegawa com sprue e durepoxi selando as janelas.

Caso opte por fazer as janelas abertas (digo, transparentes): sugiro que o modelo seja montado normalmente e depois se use produtos como o WindowMaker ou até mesmo cola branca para simular o efeito de vidro das janelas.

Aqui há uma regra consensual entre todos os modelistas: se optar pelas janelas de passageiros transparentes, faça o pára-brisas da cabine de comando transparentes; com janelas de passageiros em decais, pára-brisas da cabine de comando em decais. Apenas pela veracidade e uniformidade, não é nada obrigatório.

* Peso no nariz

Aviões com trem de pouso do tipo triciclo (aqueles com a roda direcional no nariz) precisam necessariamente assentar-se sobre a roda dianteira (todos os jatos modernos, sem exceções que eu lembre). Para tanto, faz-se necessário utilizar um peso no nariz do modelo.

Eu uso chumbinho daqueles de prender em anzóis, facilmente encontrados em casas de material para pesca. Prendo esses chumbinhos ao nariz do avião com durepoxi e/ou cola a base de cianocrilato, conforme permitir o formato da fuselagem. A foto anterior também mostra o peso que acompanha o kit, além dos chumbinhos com durepoxi/cola.

Importante: se sua intenção for colocar o modelo sobre um pedestal, dispense o peso de nariz. Mas se sua intenção for colocá-lo sobre as próprias rodas, normalmente dois pesos pequenos são suficientes (podendo variar, para o caso de aviões muito maiores).

Eu sou partidário de pecar pelo excesso – desde que não sacrifique o trem de pouso do avião depois!

* A seqüência de montagem

Alguns modelistas gostam de montar e pintar cada parte de um kit separadamente, como se cada pedaço fosse um modelo a parte. Isso proporciona maior facilidade de mascaramento e manuseio durante a fase de pintura.

Minha preferência, entretanto, é de fazer a montagem das partes de forma separada e, depois de unir as “grandes partes”, aí sim, iniciar o trabalho de pintura.

Gosto de “dividir” um avião em montagem em grandes partes principais:

• fuselagem;
•  asas;
• motores;
• estabilizadores horizontais; e
• trens de pouso.

Somente após a montagem e emassamento de cada uma dessas partes – separadamente – é que as junto. Trabalhando-as de forma separada fica mais fácil manuseá-las e verificar imperfeições menores em junções, como metades superior e inferior de asas, metades de motores, etc. Vamos ver parte a parte as “malícias” para montar cada parte principal.

A.Fuselagem: após decidir sobre a questão das janelas e adicionar o peso ao nariz, basta colar as metades da fuselagem.

Uso eslásticos pequenos e prendedores de roupas para ajudar a prender peças grandes como essas. Ao colar a peça que representa o pára-brisas da cabine de comando deve-se usar cola branca caso a intenção seja deixar a peça transparente. Como sempre uso decais, meto logo cola “braba” em cima – cianocrilato, e que se lasquem as manchas!

B.Asas: colam-se as metades superior e inferior. Aqui deve-se fazer um teste de junção com a fuselagem: não colar as partes, apenas verificar seu encaixe.

C.Motores: normalmente, colam-se metades que possuem em seu interior um disco de lâminas do motor. Aqui é a parte do kit onde menos se usa cola, pois o excesso pode provocar manchas ou sobras nas junções. Após juntar as peças dos motores, faça um teste de encaixe dos motores nas asas.

D. Estabilizadores horizontais: Normalmente são peças que podem ser montadas e pintadas separadamente, pois sua colocação junto a fuselagem pode ser feita por último sem maiores traumas.

Na maioria dos aviões modernos, esses estabilizadores são móveis em toda sua extensão, e uma pequena fresta entre as superfícies e a fuselagem dá até mais realismo ao modelo do que uma junção selada e emassada.

E.Trens de pouso: são peças pequenas, e que eu costumo pintar ainda no sprue. Depois de retiradas, faço os retoques necessários, para montar e colar por último. Sem estresse aqui, a não ser na parte do alinhamento e da altura, ao final da montagem.

Via de regra, a seqüência de montagem básica é essa, podendo ocorrer variações mínimas, como a colocação das pernas dos trens de pouso de aviões da Airbus – que nos Revell, deve ser feita antes de juntar as metades da fuselagem.

Você deve estar se perguntando porque diabos eu prefiro juntar as partes principais antes de pintá-las, ao invés de montar e pintar tudo separadamente (muito mais fácil), e só depois juntá-las.

É por causa do emassamento. Caso o encaixe das “grandes partes” não seja perfeito – o que é muito comum de acontecer, mesmo nos melhores modelos – o emassamento que ocorre na junção das partes unidas não vai estragar nenhuma pintura previamente feita, que depois deverá ser retocada. Acho que esses pequenos retoques não só são chatos, como, normalmente, mais trabalhosos do que uma pintura completa, normal.

EMASSANDO A FUSELAGEM

TRABALHANDO AS ASAS

Ainda assim, muitos colegas preferem juntar as partes já pintadas – e muitas vezes até decalcadas! – de forma a permitir um melhor manuseio das mesmas. E depois as juntam sem mistério.

Como exemplo de uma montagem dessas, a foto a seguir mostra um modelo Airbus “Beluga” do colega de fórum Fabiano Brito (“Corsário”), com fuselagem montada, pintada e decalcada, esperando pelas junções das demais partes principais.

AIRBUS A300 BELUGA – MONTADO PELO COLEGA CORSARIO

Enfim, a questão da seqüência de montagem possui um ou outro macete com relação à montagem das partes do kit, mas muito da experiência e preferência pessoais do modelista é que vão determinar a ordem de “nascimento” do avião.

Eduardo Cruz