Carro de Combate Sherman M4 do Exército Brasileiro

(Kit nº 7003 – Italeri – 1:72)

 Por Fabio Moretti

Introdução

Havia muito tempo eu estava procurando um bom motivo para montar um kit na escala 1:72; o último que havia montado vai lá pelos idos de 1.974/1.975, sendo velhos modelos da Airfix, que na realidade eram na escala 1:76.

Surgiu então a necessidade de montar um modelo para um concurso virtual e disse a mim mesmo "Porque não?".

Após rápida pesquisa sobre modelos disponíveis nesta escala e consulta aos colegas no fórum aqui da Webkits, optei pela montagem do Sherman M4 da Italeri na escala 1:72 (foto 1). Houve a necessidade de adquirir um stencil em photoetched da Dr. Design na escala 1:35 (foto 2), que vêm com algumas marcações menores e que se ajustam aos padrões da escala 1:72.

Foto 1

Foto 2

Abrindo a caixa

Tinha dúvidas com relação à qualidade e nível de detalhamento dos kits na escala 1:72. Apesar de serem bem recomendados, sou meio "São Tomé", só acredito vendo. Qual foi minha surpresa ao abrir a caixa do kit e me deparar com uma moldagem impressionante, rica em detalhes e acabamento (foto 3). Veio o assoalho logo abaixo da torre e até o motor juntamente com o eixo e a caixa de transmissão (não conheço nenhum kit da Italeri na 1:35 do Sherman que venha com o motor e o assoalho interno). Descobri mais tarde que na realidade este é um kit reeditado da antiga ESCI.

Foto 3

A montagem

Comecei por dar uma primeira demão de Olive Drab nas peças ainda presas às árvores (foto 4), e a medida que seguia a folha de instruções fui destacando peça a peça (foto 5) com a ferramenta apropriada.

Foto 4

Foto 5

Após a remoção das rebarbas e imperfeições usando lixa e/ou estilete, fiz a colagem dos rodeiros e deixei em separado secando, para mais tarde corrigir as falhas com filler (ou putty). Apliquei filler em outras partes antes da montagem, principalmente para tapar os buracos dos pinos de extração dos moldes (foto 6). Nos detalhes tive que usar e abusar de minha paciência e cuidado para dar um realismo maior ao kit, por exemplo: os suportes para içamento da carcaça e da torre vêem todos fechados, portanto se quisesse um realismo maior teria que abri-los. Para tanto usei um "Pin-Wise" (foto 7) para fazer a furação inicial, o estilete para deixá-lo do tamanho e forma pretendidos (foto 8) e por fim a lima meia-cana (no caso) para remover as rebarbas e imperfeições da furação (foto 9).

Foto 6

Foto 7

Foto 8

Foto 9

Devemos ter sempre o cuidado de "testarmos" alguns conjuntos de montagem antes de cimentá-los em definitivo, pois se tivermos que fazer ajustes a hora é essa, fica muito mais complicado descobrir que uma peça não se encaixa depois de tudo já pronto, cimentado e pintado e tentar corrigir isso (na realidade estes "testes" devem ser feitos sempre, em qualquer fase da montagem para não termos surpresas desagradáveis ao final).

Após esta fase inicial, fiz o masseamento dos rodeiros (foto 10) e iniciei a montagem da torre e do mantelete com o canhão (foto 11). Montei o motor e a parte de baixo do chassi cimentando os rodeiros nele (foto 12), aproveitei também para cimentar os escapes na tampa traseira e preparar outras peças (eixo, caixa de transmissão, assoalho, etc) para a outra fase da montagem.

Foto 10

Foto 11

Foto 12

Feito isso, me deparei com um problema, a blindagem frontal do tanque estava invertida nas ilustrações da folha de instruções (foto 13), na gravura da tampa (foto 01) e por incrível que pareça no modelo montado como referência cujas fotos aparecem na lateral da caixa (o cara deve teve um trabalho absurdo para montar "errado"). Opa, a Italeri poderia estar errada, e ainda por cima, errar três referências ao mesmo tempo?

Foto 13

Novamente recorri à pesquisa na internet e consegui fotos do "capô" blindado e realmente constatei que a Italeri estava errada, e o pior, três vezes errada. Moral da história, não confie cegamente nos fabricantes, faça pesquisa.

Bem, solucionado o problema continuei com a montagem, unindo o mantelete na torre e terminando assim a montagem intermediária do kit. Neste ponto da montagem chegamos a um impasse, diversas peças devem ser coladas no interior do tanque tendo como opção:

1ª. Pintar o interior do tanque, pintar as peças em separado, cimenta-las depois de tudo seco, fazer o "weathering" e o "wash" e depois fechar tudo.

2º. Não pintar o interior, não cimentar as peças internas (motor, assoalho, eixo e caixa de transmissão) e fechar tudo, inclusive escotilhas.

3º. Montar o interior, pintar tudo com a cor interna e depois pintar somente as peças em separado já coladas e, após tudo seco, fazer o "weathering" e o "wash".

Bom, para quem quer um pouco de realismo e um trabalho bem feito e para quem está começando agora, eu sugiro a primeira opção, pois se errar não tem problema, você fecha tudo e pronto, ninguém irá ver o que está errado. Dei seqüência à montagem, cimentando as peças internas que seriam pintadas na mesma cor do veículo (caixa de transmissão e suportes do motor e do eixo), após o que, pintei o interior do veículo na cor padrão (branca), inclusive a outra metade da carcaça. Em separado pintei, também de branco, a divisão entre o compartimento do motor e o compartimento da tripulação e o assoalho do veículo (foto 14). O motor e o eixo foram pintados de metal cote que, após a secagem, foi polido com cotonete e uma flanela. Terminada esta fase parti para a montagem final.

Foto 14

Tudo seco, comecei pela parte interna, posicionando primeiramente o eixo na transmissão, depois encaixando a ponta deste eixo no motor, cimentando o motor nos suportes, colando a divisão entre os compartimentos e por fim o assoalho. Cimentei a metralhadora .30 na parte superior da carcaça. Fiz o envelhecimento, o desgaste e a sujeira nos compartimentos da parte interna do veículo com betume da Judéia diluído em águarraz na proporção de 1:9 aproximadamente (foto 15). Após tudo seco uni as duas metades da carcaça e cimentei o conjunto. Idem para a torre, após a colocação da escotilha lateral da torre, o masseamento e o lixamento desta área e a colocação da escotilha secundária da torre na posição fechada, o interior foi pintado na mesma cor da carcaça. Ambos os conjuntos estavam agora prontos para o acabamento, só esperando a secagem da  pintura.

Foto 15

Enquanto isso, procedi a preparação das lagartas, parte muito importante esta, que não pode admitir erros. Apesar de escolher pela lagarta de vinil, devido a maior praticidade em sua montagem e acabamento, viria a me arrepender amargamente mais tarde. Iniciei passando uma mão de cola branca diluída em água, como de praxe ao pintar peças de vinil, passei uma base em preto fosco e deixei secar. Esta lagarta é emborrachada, portanto a maior parte dela é num tom preto "acinzentado" , sendo metálicos apenas os dentes e os "links" de cada uma das sapatas de borracha. Fiz um pincel seco de prateado nas partes metálicas e apliquei tinta cor ferrugem nos links, uni as pontas e "soldei" os pinos de vinil com uma ferramenta caseira aquecida na chama de uma vela (foto 16).

Foto 16

Fiz o envelhecimento e sujei as lagartas com pó de giz pastel seco nas cores cinza, tijolo e branco. Veículo quase finalizado, faltava apenas instalar os faróis dianteiros, lanternas traseiras, ferramentas que serão fixadas sobre o chassi (machado, pá, marreta, etc), suporte traseiro, a metralhadora, as tampas da escotilha do comandante e a metralhadora .50 da torre. Comecei por instalar os faróis e lanternas, montei o suporte traseiro e cimentei-o no seu lugar. Enquanto isso as ferramentas haviam sido pintadas e aguardavam a hora certa de serem instaladas, bem como as portas da escotilha; a tampa do motor e a metralhadora, a qual tive que modificar visto que os "punhos" da mesma vieram fechados (foto 17), o cano da arma também teve de ser perfurado usando a ponta de um estilete.

Foto 17

Pintura e acabamento

A pintura deste veículo foi extremamente fácil, visto que o mesmo é monocromático externamente (olive drab). Fiz a proteção das partes internas que já haviam sido pintadas de branco, e pintei o veículo. Após a secagem, cheguei a parte mais delicada, as marcações do EB com stencil, é um trabalho que deve ser feito com muito cuidado, pois a tinta deverá estar na diluição certa (consistência de leite) e o aerógrafo deve trabalhar com baixa pressão, isto é, o jato de tinta deve ser fraco e pontual, não pode ser intenso e nem disperso pois a tinta escorre ou então ultrapassa o recorte do stencil e aí o seu trabalho estará perdido parcialmente, pois terá que esperar secar, recobrir a área novamente com Olive drab, esperar secar e refazer as marcações com stencil. Para tanto faça testes em um pedaço de plástico ou papel, treinando para que na hora H você não tenha problemas. Como foi a primeira vez que usei um stencil, tive problemas mesmo treinando antes, tive que refazer a marcação frontal do chassi. Após a secagem da pintura, fiz o "weathering" com betume da Judéia, que em minha opinião (apesar de muitos não gostarem) é o que dá um aspecto de sujeira acumulada com óleo e graxa, fica bem legal, apliquei nos altos e baixos-relevos, escapes, tampa do motor, rodas, eixos, dobradiças, etc (foto 18). Por fim apliquei uma demão de verniz semi-fosco, acho que os veículos militares tem uma pintura não totalmente fosca como muitos gostam de fazer, mesmo após o desgaste ainda assim ela terá algum brilho-fosqueado.

Foto 18

Com a pintura já seca, está na hora de instalar as lagartas. Esta é uma tarefa árdua, pois uma pressão a mais nesta escala pode arrebentar a união da lagarta de vinil, e foi o que aconteceu com ambas! Ao tentar encaixar a lagarta na roda guia da parte traseira tive que estica-las e então ocorreu a ruptura da união; foi então que me arrependi de ter optado pela lagarta de vinil ao invés da link'n'length que vem no kit (uma espécie de link-by-link) (foto 19).

Foto 19

Como meu tempo era muito escasso, pois este modelo iria participar de um concurso, optei por emendá-las da forma que aprendi há um tempo atrás, grampeando as extremidades das lagartas (neste caso com um grampeador pequeno), para esta escala apenas um grampo resolveu o problema (foto 20). Então retoquei ambas e finalmente instalei no veículo. O Sherman está quase pronto, agora faltam apenas os detalhes finais.

Foto 20

Detalhes finais

O veículo já está pintado, envernizado e envelhecido, falta agora apenas instalar as ferramentas na carcaça, as portas da escotilha do comandante e a tampa do motor. Feito isto, fiz uma antena com linha de pesca e cimentei a mesma no suporte com SuperBonder (foto 21). Mais tarde me alertaram que havia uma abertura para a metralhadora coaxial no lado esquerdo do mantelete, a qual foi feita com uma broca e um Pin-Wise (foto 22).

Foto 21

Foto 22

A Vinheta

A base foi feita com uma moldura pequena para foto, removi o fundo (o qual serviu de base) e tirei o vidro. Cobri com massa para calafetação de madeira da Fusecolor na cor branca, deixei secar quase por completo e então com um "riscador" fiz o calçamento (paralelepípedos) e os quadros da calçada. Deixei então secar por completo, lixei com uma lixa fina e apliquei uma camada de verniz fosco, após fiz o preshading com tinta preto fosco e fui clareando com tons de cinza e Desert Yellow, ao final apliquei cinza claro no centro dos quadros da calçada e nos paralelepípedos escureci com pó de

giz pastel seco nas cores: cinza escuro; preto; tijolo e marrom.

Terminada a pintura, preparei o canteiro para a árvore com pedaços de sucata; a árvore está na escala HO (1:87) porém não ficou desproporcional nesta vinheta, apenas tive que dar alguns retoques nas copas pois as cores eram muito vivas, após a secagem da pintura da base, fiz um furo com uma broca e uma furadeira manual tomando cuidado para não transpassar toda a base, limpei o furo e apliquei no mesmo um pouco de cola epóxi (Pra-Que-Prego) usando um palito de dentes e umas duas gotas de SuperBonder. Fixei a árvore neste furo e deixei secar (foto 23). Enquanto isso montei totalmente em scratch um poste de luz com restos de modelos e sprue, pintei com MetalCote e dei brilho com um cotonete. Fixei-o numa base, também feita com sucata de kits, pintei de branco (foto 24).

Foto 23

Foto 24

Colei então o canteiro e preenchi internamente com massa Fusecolor para cobrir a emenda do tronco da árvore com a base, depois de seco pintei de marrom; o tronco foi pintado de branco fosco para imitar a pintura a cal, muito usada aqui no Brasil (foto 25).

Foto 25

Por fim, colei o poste em seu local com um pouco de SuperBonder, e assim terminou a montagem desta vinheta que levou o nome de "Ame-o ou Deixe-o - Carro de Combate Sherman M4 A1" (foto 26).

Foto 26

Avaliação Geral do Kit

Folha de instruções: 9 (há imprecisões na montagem da blindagem frontal)

Peças: 8 (os braços da figura são desproporcionais e o encaixe da lagarta de vinil é muito frágil)

Embalagem: 9 (há imprecisões nas gravuras e fotos)

Decalques: 10

Encaixes: 8 (em alguns casos há de se lixar para retirar excessos e/ou completar com um pouco de putty)

Montagem: 9 (dificuldade no encaixe da lagarta de vinil)

Detalhamento do Kit: 8 (há imprecisões na torre e no mantelete do canhão)

Nota do Kit: 8,7

Portanto, eu recomendo este kit.